Acho que hoje morreu algo em mim. Tem morrido a cada dia e sinto que isso é bom. Talvez seja o processo natural deste luto, talvez seja o nascimento de um novo ser, sim, um Alguém. Vejo a vida com novos “óculos”, ou mesmo novos olhos. Despeço-me hoje de alguém em mim. Acordo de um sonho chamado esperança. Espero que “futuro” seja uma palavra aliada e me reserve coisas boas. Acho que até hoje tive, sim, tive, alguma espécie de esperança de que tudo fosse mentira ou erro de laboratório. Despeço-me dela, sem olhar para trás. Beijo a esperança. Reagente nem sempre é ruim. Hora de reagir.
Gabriel de Souza Abreu nasceu em 1984 no interior do Estado do Rio de Janeiro, em família de classe média. Em 2010, decidiu mudar-se para a capital para concluir seus estudos de pós-graduação numa instituição de referência nacional na área de ciências da saúde. Um pouco mais de um ano de intensa vida gay na cidade do Rio de Janeiro – o paraíso homossexual do Brasil – exatamente no dia 11 de abril de 2011, às 13 horas, Gabriel recebeu um diagnóstico que mudaria sua vida para sempre: descobriu que era soropositivo para HIV-1. Na busca de novos caminhos, ele começou a escrever, registrando seus medos, expectativas e anseios, publicando em 2014 o seu primeiro livro, O Segundo Armário: Diário de um Jovem Soropositivo. Gabriel sempre se dedicou a questões relevantes para a promoção da saúde e qualidade de vida no Brasil, e atualmente concentra energias em projetos de melhoria do sistema público de saúde brasileiro e de acolhimento de jovens soropositivos.